Poeta
Álvaro
Alves
de Faria

Canal do poeta

Biblioteca

(Fotos de minhas filhas Daisy de Fátima e
Amanda de Fátima e de meu sobrinho Danilo)

Este é o lugar onde passo grande parte de meu tempo. Minha biblioteca foi formada em mais de 40 anos. Um lugar onde me sinto bem. Leio, escrevo, ouço música e muitas vezes me deixo adormecer ao meio de cerca de 16 mil livros. Minha amiga querida Ligia Fagundes Telles teve a ideia de mostrar minha biblioteca no meu site. Disse-me, há muito tempo, que eu tinha de escrever um texto poético sobre a biblioteca. Acho que Lígia está certa. Então deixo-me escrever. E espero, sinceramente, não cair em algo parecido com cabotinismo ou uma saudação em causa própria. Vou tentar. Usarei da chamada “liberdade poética”. Logo à frente de meu computador, guardo fotos com moldura de, pela ordem: Mário de Andrade, Cesário Verde, Cervantes, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Eça de Queiroz, Pablo Neruda, Lorca, Florbela Espanca, Machado de Assis, Jorge Amado, Herman Hesse. T.S.Eliot, Clarice Lispector, Rosalía de Castro, Antero de Quental, Silvia Plath, Rilke, Mário de Sá-Carneiro, Rimbaud, Virgínia Woolf e Hilda Hilst. Essas fotos em pequenos quadros com moldura e vidro estão na minha frente, quando estou escrevendo. Logo acima, um retrato de Fernando Pessoa, que trouxe de Portugal há muitos anos. Estou em boa companhia. Em outro local, quadros iguais de Camilo Castelo Branco, Tolstói, Cecília Meireles, Gustave Flaubert, Oscar Wilde, Dostoievski e Maiakovski, além de várias fotos minhas também com moldura ao lado de escritores brasileiros. Fora isso, coloquei nas paredes minha biblioteca 23 fotos de vários tamanhos, também com moldura e vidro, de Marilyn Monroe, mulher que sempre admirei, mas não há nisso nada de sensualidade ou o que possa parecer. Admirei essa mulher de uma vida desfeita em tudo. Li muito sobre a vida de Marilyn e tenho vários livros de fotos de extrema beleza. Para mim, tudo em Marilyn é poesia, da mais dolorida. Tenho também várias pequenas esculturas de artistas populares de Pernambuco, com destaque para uma Namoradeira que está bem no canto de cima. É vista imediatamente por quem entra na minha biblioteca. Há ainda pôsteres de pinturas famosas bastantes grandes, que eu trouxe principalmente dos museus do Prado, do Louvre e do Vaticano. E também dois autorretratos meus grandes e dois cartazes de filmes feitos com base em dois livros meus, “Onde os poetas morrem primeiro”, dos irmãos Schumann, de Curitiba, baseado no romance “O Tribunal”, que escrevi com apenas 24 anos de idade; e “O homem de olhos mortos”, de Nivaldo Lopes, também de Curitiba, baseado no meu livro “Borges, o mesmo e o outro”, uma entrevista de 12 horas que fiz com Borges, no apartamento dele em Buenos Aires, texto publicado 25 anos depois. Tomei chá com Borges duas tardes e fiz dele 17 fotografias em sua poltrona preferida. Em cima de um móvel no meio da biblioteca, tenho várias pequenas esculturas trazidas do exterior, especialmente de D. Quixote e Camões. Numa estante, há uma pequena escultura de Chaplin e os dois prêmios Jabuti e três da APCA que recebi ao longo do tempo como poeta, escritor e jornalista cultural, com dedicação à promoção do livro e da crítica literária. Em algumas estantes tenho fotos de Madonas de vários pintores, especialmente da Renascença. Entre os pôsteres, destaco um de Florbela Espanca, com o soneto “Amar”, que minha mãe de me trouxe de Portugal quando eu tinha 13 anos de idade. Trouxe-me também, nessa ocasião, uma guitarra portuguesa, que guardo até hoje e que nunca aprendi a tocar, mas que me levou ao violão que nunca mais saiu da minha vida, especialmente nos momentos mais delicados e de silêncio nos becos sem saída.

*

 

Eu quero amar, amar perdidamente!

Amar só por amar: Aqui… além…

Mais Este e Aquele, o Outro e toda gente…

Amar! Amar! E não amar ninguém!

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Recordar? Esquecer? Indiferente!…

Prender ou desprender? É mal? É bem?

Quem disse que se pode amar alguém

Durante a vida inteira é porque mente!

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Há uma primavera em cada vida:

É preciso cantá-la assim florida,

Pois se Deus nos deu voz foi para cantar!

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E se um dia hei de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que me saiba perder… para me encontrar…

 

*

Tenho ainda, na biblioteca, uma coleção de São Francisco de Assis, com mais de 50 esculturas de madeira e pedra que eu trouxe especialmente do Sul de Minas Gerais, que frequentei por muitos anos em fases difíceis de viver. Tenho ainda um relógio bastante antigo que encontrei no antiquário de um amigo, que bate as horas e toda uma música clássica, com um pêndulo dourado que faz do tic-tac ininterrupto. É preciso destacar, também, a minha boneca Olívia, sentado em sua cadeira de fundo azul. E também a minha máquina de escrever na qual escrevi tantos livros e que hoje é uma peça de decoração. A poesia está nisso tudo, na pequena caravela entre os livros que me convida sempre a partir e nos anjos expulsos do céu que guardo entre poetas, escritores, escritoras que escreveram suas vidas, como a escultura de Moça de Coimbra que me olha sempre de cima do móvel, peça de mármore branco. Isso tudo é o que está na minha biblioteca. Eu vivi sempre assim, a vida inteira, como uma pessoa do século 18. Muitos períodos da minha vida perdi com ferimentos que deixaram cicatrizes que nunca mais vão desaparecer. Dentro de casa há mais de 300 bailarinas, quadros, obras de arte, esculturas de vários países, peças certamente esquecidas nesse universo distante em que tento viver na medida do possível. E esse universo começa já na entrada da casa, onde vive junto ao portão uma árvore imensa de mais de 40 anos, e muitos quadros cópias de pinturas famosas, retratos de Coimbra e anjos renascentistas, o que se estende pelo quintal junto ao jardim que cultivo com os mais de 200 pássaros que, todos os dias, alimentos com arroz em dois horários. Isso tudo faz da parte debaixo de minha casa ser uma espécie de museu ou antiquário que marca minha vida em tudo que fiz e ainda tento fazer. Logo que se entra na biblioteca, há um uma estante que tem o lado decorado por pinturas e fotos, que são, pela ordem: Inês de Castro, “As Meninas”, de Velásquez, uma foto minha com José Saramago, outra ao lado de Rachel de Queiroz, e a cópia de uma pintura de autor desconhecido de uma bela mulher tocando um bandolim. E junto à porta de entrada, além das plantas, tenho um pequeno frade que toca um sininho para chamar minha cachorra Bebel para ficar comigo na biblioteca, além de uma escultura em tamanho natural de uma camponesa com um vaso de flores.

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