Poeta
Álvaro
Alves
de Faria

Canal do poeta

Crítica 6

Os amigos poetas Antonio Miranda, Eunice Arruda e Álvaro Alves de Faria ( esq./dir)

As lâminas como destino em Álvaro Alves de Faria

A trajetória de lâminas na poesia de Álvaro Alves de Faria é uma constante esclarecedora, pois o poeta assemelha a sua dicção à claridade concreta  da palavra:

 

Meus sapatos

 caminham

 sobressaltos

 O longo destino de Álvaro Alves de Faria é espantoso:

 Meu pai

 nunca soube

 que eu morri.

 

Levantava-se às manhãs

 e ia à terra e às ovelhas

 e ao passar

 pelo meu quarto

 pensava-me a dormir.

 

 À noite voltava

com as mãos cheias

 de castanhas

 e ao ver-me ausente

 imaginava-me a navegar

 oceanos distantes.

 

Jamais nos encontramos

 nos cômodos da casa.

  

Meu pai

nunca soube

que eu morri.

 

O pensamento de Álvaro Alves de Faria é lúcido, objetivo, exato:

 

No shopping, todas as mulheres

 casadas são suspeitas.

 Andam devagar com olhos azuis

 e pensam na vida

 em silêncio.

 

 No shopping, as mulheres casadas

 sentem a vagina molhada

 e umedecem os lábios

 para um beijo impossível.

 

No shopping, as mulheres casadas

 mostram os seios, as coxas,

 a calcinha de renda

 e de náilon.

 

 Mordem a ponta dos dedos,

 tomam laranjada e coca-cola,

 lêem os cartazes do cinema

 e suspiram de amor.

 

 No shopping, as mulheres casadas

 se esquecem

 e tecem a tarde com perfume,

molham a língua

 com um doce de chocolate

 e deixam o bico do seio crescer.

 

 No shopping, as mulheres casadas

 procuram revistas e livros,

 a blusa de Los Angeles,

 os sapatos azuis

 e até um vestido de noiva.

 

No shopping, as mulheres casadas

 sugam o batom da boca

 e desejam outros desejos

 impenetráveis.

 

No shopping, as mulheres casadas

 gozam em cada olhar

 e depois ficam mais tristes.

 

 Concordo com o crítico  Antonio Carlos Secchin quando informa que a poética de Álvaro Alves de Faria demonstra que viver é algo que sangra:

 

 Que me sinta assim morrer antes da Primavera

 como se a querer sentir o que não sinto

 como se a sentir o que não tenho e o que não me dera

 a dizer da verdade o que de certo apenas minto.

 

 Em seu poema Auto-Retrato, tem-se um registro cabalístico da profunda especulação existencial de Álvaro Alves de Faria:

 

Ando sempre com a sensação

de estar à beira de um colapso.

Mas sei que isso faz parte

 da brutalidade cotidiana.

 Enquanto não dou um fim a tudo,

 me submeto à próxima

vontade de existir,

 como se tudo fosse normal.

 

 O grande escritor que é Álvaro Alves de Faria nasceu em São Paulo, em 1942. Portanto, em 2012, comemora-se o seus 70 anos de vida, essa postagem é uma homenagem ao seu caminho de cortes:

 

Chega uma hora em que a poesia

 não basta em si,

 chega uma hora em que a poesia

 não basta em ti

 chega uma hora em que a poesia

 não basta em mim

  

Poemas de Álvaro Alves de Faria

Minuta de Diego Mendes Sousa

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