Poeta
Álvaro
Alves
de Faria

Canal do poeta

“Desviver” em S Paulo

“DESVIVER” EM SÃO PAULO

O lançamento de “Desviver” em São Paulo, publicado pela Escrituras, foi somente um encontro de amigos e amigas que compareceram para trocar afetos na Livraia Martins Fontes Paulista, no dia 10 de dezembro de 2015. Nesta página estão muitas das fotos que registraram esse encontro mais de carinho que literário. A capa do livro foi feita com um desenho meu, da série “Sombras”, 55×35, água, nanquim e pincel, num projeto que percorre a obra, realizado pelo editor e poeta Raimundo Gadelha, que inclui, também, um autorretrato na primeira orelha do livro. Os encontros afetivos são bons para acalentar ainda alguns sonhos já proibidos de sonhar diante de uma brutalização quase geral. E de esquecimentos também. E também de indiferenças. E também de alguns descasos, cada vez maiores.

LANÇAMENTO

Fotos de:
– Nelson França
– José Anito
– Daysi de Fátima Alves de Faria

Visão da livraria

Poeta e Mariana Porto

Zuleika dos Reis e Raimundo Gadelha

Poeta, Paloma Souza e Luana Saori

Livros

Poeta, Paloma e Luana

Esther Proença e minha filha Daisy de Fátima

Poeta e a artista plástica Magda Stábile

Ricardo Ramos Filho

Poeta e Ricardo Ramos Filho

Poeta e José Nêumanne Pinto

Gadelha, poeta e Nêumanne

Nêumanne e Daisy de Fátima

Poeta e Cristiane Tavares

Poeta e Cristiane

Poeta e Cristiane

Poeta e Cristiane

Poeta e Davi Kinski

Rubens Jardim, Luana e Paloma

Livraria

Isabel Cintra Nepomuceno entrega orquídeas ao poeta

Poeta e Isabel Cintra Nepomeceno

Isabel e Cristiane

Desviver

Miguel Jorge

Neste novo livro, Álvaro Alves de Faria constrói e descontrói o nosso Desviver, com a dor profunda de quem perdeu a antiga doçura. É a afirmação mais significativa de sua trajetória poética. Um apelo sincero a sensibilidade. O limiar de um novo ciclo que se abre agora em sonoros significados, que nos remetem também a auto-reflexão. Efeito consciente na construção dos versos, na busca da palavra certa, nos focos de sonoridade ampla, na relação vida e transformações identificadas ao longo do caminho. É como se o poeta estivesse de volta de um longo percurso e, pleno de símbolos, nos indicasse a sobreposição do que foi e do que poderia ser entendido. É de se ver e notar a profundidade de informações com possibilidade histórica, num revezamento representativo dentro da própria obra. “Desviver” marcará a trajetória do grande poeta que, sem dúvida alguma, entrará na constelação mais ampla da poética universal.

Poeta e Paloma Souza

Davi Kinski e Nélson França

Poeta e a escritora Elisa Andrade Buzzo

Poeta e Elisa Andrade Buzzo

Poeta e Roberto Bicelli

Poeta e Roberto Bicelli

Poeta

Poeta e José Anito

Cristiane e poeta

Rubens Jardim e Isabel

Poeta

Rubens Jardim e Isabel

Poeta e Rubens Jardim

José Anito e poeta

Poeta e editor e escritor Nicodemos Senna

Poeta e a filha Daisy de Fátima

Poeta e Gadelha

Zuleika e Daisy

Poeta e Paloma

Poeta e Roberto de Oliveira

Poeta e o artista plástico Valdir Rocha

Poeta e Antonio Zago

Escritor Silvio Fiorani e poeta

Sílvio Fiorani e poeta

Livraria

Poeta e Esther Proença

Poeta, Maurício e Mariana Porto

Poeta e a bailarina Mariana Porto

Esther Proença e Raimundo Gadelha

Poeta e Isabel Cintra Napomuceno

Livraria

Poeta e Nicodemos Senna

Poeta e Paloma

Poeta e Roberto de Oliveira

Poeta e Valdir Rocha

Poeta e Antonio Zago

Poeta, Zago e Valdir

Sílvio Fiorani e poeta

José Anito e Nêumanne

Poeta e Flora Anita

Poeta e Zuleika dos Reis

Poeta e Nicodemos

Poeta e o casal de escritores Ronaldo Cagiano e Eltânia André

Poeta e o casal José Nêumanne e Isabel

DESVIVER

Moacir Amâncio, jornalista, escritor e professor doutor adjunto da Universidade de São Paulo.

Longe de ser poeta de juventude, Álvaro Alves de Faria também não é um poeta de ocasião, ou bissexto, como se dizia há muito tempo. Sua obra vem sendo publicada desde 1963 (“Noturno Maior”) com entradas na prosa, quem sabe a mudança de ares se destinasse a uma exploração com outras lentes em busca da renovação do próprio verso. Uma pausa sempre relativa, pois a poesia continua presente nas narrativas e monólogos sobre as mais diversas situações contemporâneas. Em mais de cinquenta anos de prática literária o poeta mergulhou de cara no cotidiano, isso nada tem a ver com o banal e o superficial, nada mais múltiplo do que o dia a dia. E é do atrito entre os muitos cotidianos, externos e interiores que estala a faísca do poema.

Não seria possível determinar o que vem antes, a inspiração ou o poema, por via das dúvidas melhor será pensar que o poema é a própria inspiração e vice-versa – aquela faísca. Claro, a poesia pode se apresentar a qualquer pessoa, basta estar viva, solitariamente num quarto, diante de uma vista, ou de uma obra de arte literária ou pictórica ou musical, pouco importa. A diferença está em que o poeta, tomado aqui como o artista exposto ao desvio e ao acaso, e não o artesão restrito à sua habilidade, consubstancia a inspiração num texto (ou outro objeto), movido pela urgência de se expressar apoiada pela perícia no ajuste ou desajuste das palavras (ou das linhas, das imagens) que ele na aparência domina, mas talvez o mais correto seja dizer que elas o tomam como instrumento de um discurso em busca de voz. E essa voz também inspirará o leitor.

Trata-se de uma aventura pelos sinônimos do instável, que podem ou não fazer com que o poeta movimente os olhos, todo o seu ser, e não “apenas” de modo intelectual ou espiritual, como quiserem, em busca de correlatos objetivos espalhados pela casa, pela cidade, pelo país, pelo planeta. Álvaro nasceu em São Paulo e nesta cidade encontrou harmonias e desarmonias desde os tempos da ditadura militar até a festa equívoca dos shopping centers, dois estados refratários ao poeta, marginal ou intruso. Além dos poemas e narrativas escreveu crônicas para jornal e rádio, sempre engajado não numa luta político-partidária determinada e unívoca, mas na própria vida, seja lá o que isso for e essa pergunta acompanha a obra de Álvaro como um eco, ou, tentando ser menos incorreto, seus poemas mais do que ecoar, buscam captar as rimas loucas desse emaranhado inqualificável de sons, acontecimentos, alegrias, tragédias próprias e alheias, que disso ninguém escapa nesta porca miséria.

Não há chance para burocracias na aventura poética, ou ela não será. Álvaro viveu momentos existenciais variadíssmos que carregam a sua literatura sempre movida por um impulso lírico que se renova e, a rigor, não terá fim, pois essa corda continuará a vibrar ao ser tocada pelos seus leitores. Houve um tempo em que Álvaro se declarou um ex-poeta. Não sei se é possível existir tal entidade. Um poeta que deixa de escrever jamais poderá ser considerado um ex-poeta, mas como é próprio dos poetas criarem realidades insuspeitadas, então teremos de admitir a validade de tal declaração oral ou… escrita. Ao circular por aquelas realidades Álvaro de repente se redescobriu em Portugal, terra de seus pais. O poeta paulistano por excelência – o Viaduto do Chá é um marco em sua história – percebe-se então um ibérico. E com as consequências que isso implica, descobrir um pertencer e um estranhar recorrente, ou o inevitável. Mais uma vez, a Ibéria, o Portugal que ele tem por herança de fato, próxima, veio à tona e ampliou a sua obsessiva busca do motivo de expressão e interrogações. Limites e convenções ideológicas são rompidos pelo acaso do idioma jamais circunscrito na geografia ou na rasa nacionalidade. Álvaro é tanto brasileiro como português na letra e na lei e não há maneira mais rápida de não ser nada disso do que o caminho da triplicidade a ser seguido pelo estrangeiro de sempre que em primeiro lugar estranha a si mesmo e é estranhado pelo que o cerca.

Acontece que a viagem sobre as fronteiras geográficas ou pessoais é inerente à poesia. Ela não é daqui nem de alhures. Nem de cima nem de baixo. E se às vezes acontece a sensação de alguma harmonia utópica, da existência de um ponto de chegada, este de novo se revela falso ou fugidio. O que há é um permanente desacerto em metamorfose mostrando sua cara tanto abominável como inevitável. Não sei se deveríamos concordar com a ideia de que isso é uma verdade, embora tudo leve a crer, mas nada mais urgente do que duvidar de qualquer crença, rumo ao desencontro.Quando o que se vê não é vida, mas “desvida”, como querem os poemas, ou melhor, o longo poema contido neste livro, a repercutir ou a fazer sequência ao “Eclesiastes” que, retirado do conjunto bíblico exigindo uma interpretação contextual, pois não está lá por acaso, torna-se um manifesto poético a partir da nulidade das coisas ilusoriamente negada pelo delírio das vaidades.

Pode-se ver neste livro, também, um reflexo da chamada teologia negativa, segundo a qual só se pode saber o que Deus não é. No caso do poeta Álvaro e seu descante, essa talvez seja a única maneira de ler a vida, ou seja, pelo viés de que ela não é vida, simples e terrível como isso, nota de batida surda, sem resposta. Mas também não é esse algo de sentido também inapreensível chamado morte. Do paradoxo, a partir da consciência de quem sempre estará fora, apesar dos muitos lugares e ambientes que o condicionariam, ressurge a experiência de linguagem chamada poesia na qual o indivíduo constata mais uma vez a sua condição de estrangeiro a partir de si mesmo.

DESVIVER (2015) - Obra solar de Álvaro Alves de Faria

A obra DESVIVER de Álvaro Alves de Faria, em sua edição publicada em Portugal

“Neste novo livro, Álvaro Alves de Faria constrói e desconstrói o nosso Desviver, com a dor profunda de quem perdeu a antiga doçura. É a afirmação mais significativa de sua trajetória poética. Um apelo sincero a sensibilidade. O limiar de um novo ciclo que se abre agora em sonoros significados, que nos remetem também a auto-reflexão. Efeito consciente na construção dos versos, na busca da palavra certa, nos focos de sonoridade ampla, na relação vida e transformações identificadas ao longo do caminho. É como se o poeta estivesse de volta de um longo percurso e, pleno de símbolos, nos indicasse a sobreposição do que foi e do que poderia ser entendido. É de se ver e notar a profundidade de informações com possibilidade histórica, num revezamento representativo dentro da própria obra. “Desviver” marcará a trajetória do grande poeta que, sem dúvida alguma, entrará na constelação mais ampla da poética universal.”

Depoimento de Miguel Jorge

Miguel Jorge e Álvaro Alves de Faria

“Álvaro Alves de Faria, nosso grande poeta paulistano. Coração generoso, alma sensível, guerreiro incansável.”

Depoimento de Antonio Ventura exclusivo para Diego Mendes Sousa

“Confesso que “Desviver” é um livro que considero bastante estranho em toda minha obra poética.

Nenhuma vez em toda minha vida conclui um livro e entreguei os originais imediatamente ao editor. Esta foi a primeira vez.

Entreguei ao Jorge Fragoso, da Palimage, em Coimbra, a Raimundo Gadelha, da Escrituras, de São Paulo e também à poeta espanhola que vive em Salamanca, Montserrat Villar González, que já o traduziu para publicação na Espanha.

Na verdade, nesse lidar diário com a poesia alguma coisa vinha se desenvolvendo dentro de mim, algo que eu não sabia explicar. Mas era alguma coisa que não saía de mim, dia e noite.

Até que numa madrugada pensei em viver ao contrário ou do avesso, ainda não sei dizer. Era, sim, alguma coisa que tem a ver com a elaboração da poesia, do poema, mas tinha, também, algo muito forte na questão existencial.

E dentro desse clima escrevi um poema em que apareceu a palavra “desviver”.

Senti que essa palavra tinha tudo a ver com o que eu vinha sentindo há muito tempo, nessa trajetória que não termina nunca envolvendo a poesia, essa dor da poesia, esse corte da poesia, esse sangue da poesia que escorre sempre sem que o poeta nem perceba.

Às vezes o poeta está com sua blusa branca cheia de manchas vermelhas de sangue e ele nem sabe o que é.

Fiquei algum tempo com essa palavra “desviver” na cabeça. Até que perguntei: Por que viver para “conseguir”. Por que não viver para “desconseguir”? Por que viver para “caminhar”? Por que não viver para “descaminhar”? Por que viver para “fazer”? Por que não viver para “desfazer”. Por que “viver” para viver? Por que não “viver” para “desviver”.

E “Desviver” passou a ser o título do livro que ainda estava por escrever. Dizer tudo ao contrário, a se negar no que está estabelecido e eu, particularmente, não sei o que está estabelecido. E faz tempo que não quero saber. E não quero sequer saber o que está estabelecido em todos os setores da vida.

E assim os poemas começaram a ser escritos, diariamente. Todos os dias trabalhei nesses poemas à procura não do “fascínio”, mas do “desfacínio”. À procura não da “palavra”, mas da “despalavra”. À procura não da “poesia”, mas da “despoesia”. Não do “poema”, mas do “despoema”.

Além de literária e da poética, tratava-se de uma questão íntima de um poeta que é poeta 24 horas por dia em tudo que faz. Essa é minha sina, esse é meu fado, esse é meu destino. Esse é o meu “desdestino”. A minha “dessina”. O meu “desfado”. Tudo ao contrário. Tudo no que se nega, no que não é ou não pode ser. O que tem de “desser”, como se tudo se desfizesse e se desconstruísse.

E na verdade tudo se desconstrói. Talvez não sendo possível desconstruir a própria poesia, quero desconstruir a linguagem poética, a “deslinguagem” “despoética”. Talvez seja isso. “Destalvez” seja assim.

Quero “desescrever” o “deslivro” com a “despalavra”, com a “despaixão”, com o “dessentir” para que tudo se “desesclareça”.

Seja como for, acho e “desacho” que “Desviver” é um livro de poesia. Não sei se isso é importante ou “desimportante”. Não sei de mim como poeta e pouco me importa saber. Chega uma hora em que tudo começa a ficar distante e a ficar ausente. Esse é o corte. Esse é o desfecho. Esse é o gesto possível. É o que ainda pode existir.”

Depoimento de Álvaro Alves de Faria

Álvaro Alves de Faria e Lygia Fagundes Telles

1

Sair da vida
como do avesso
de outra vida
desvida do que já foi
renascer
no que não há
desfazer-se em si mesmo
como o inseto
que se desvenda
sair da vida
desviver por dentro
como a sair por uma porta
igual ao que se desfaz
e se iguala ao que não é
como se não fosse
esse percurso
de se encontrar
onde reza a alma
e se dilacera
num tempo inútil
como se houvesse
ainda o pressentir
o ser da ausência
de se sumir
o ser do ser
a se punir
num só golpe
num somente
o que não resta
no que não sente.

5

Destruir-se
no desdém
descalar-se
no descaso
desescobrir-se
em desespero
que desespera
e se repassa
na sempre espera
na fúria os pássaros
que destelham a casa
as figuras
que fogem dos quadros
quebrados no chão da sala
que passam pelas portas
no fundo da vala
e depois regressam
desregressam
asas como escamas
desconhecidas
como o que não chega
e não se basta
se desbasta
desesquecer-se
do desesquecimento
que nada há a lembrar
no dessegredo
o nada a descobrir
desredescobrir
tudo está completo
no que não se descompleta
no que se determina
a face a desfazer-se
que a nada se destina.

10

Desdesligar-se
do desazul
do que se encerra
no desencanto
que desenterra
dessentimentos
desnecessários
as desdatas
de obituários
desencontar-se
em sua dívida
desfigurar-se
em sua súplica
o desrítmo
dessa música
despersonagem
do desespetáculo
desavidez
do que é ávido
a primeira vez
do que é último
desse número
que se enumera
despermanecer
no que é desprimavera.

13

Doravante
andar para trás
de costas
aos oceanos
nas tardes
das marés
andar sem ver
o rumo dos pés.

22

Desexistir
na fotografia
desimagem
do desantigo
a desigreja
a desprece
a deslágrima
o desdeus
desaceno
desperdido
na pedra
do desalento
a despedra
do acalento
o calendário
que se apaga
despoema
em um diário
o gesto inútil
na mão precária
desoceano
na desmúsica
sem sua ária
desfazer-se
do desmomento
do que resta
desse instante
desprosseguir
adiante.

26

Desperceber-se
na fotografia
o chapéu
da vida
o chapéu do dia
na desfotografia
do tempo passado
desantigo rosto
que não se conhece
na cicatriz
que aparece
e se desencanta
no encantamento
como se assim
fosse merecer
desmerecido
merecimento.

Poemas de Álvaro Alves de Faria
Minuta de Diego Mendes Sousa

Menu