Poeta
Álvaro
Alves
de Faria

Canal do poeta

Homenagem 4

FADO

Ato de Resistência

A poética de Álvaro Alves de Faria e as questões sociais

Poeta foi homenageado com o Prêmio Poesia e Liberdade Alceu Amoroso Lima 2018, um dos mais importantes e significativos do Brasil

(Fotos: PoeArt Editora)

“Pouco importa que poucos leem. Sempre foi assim no Brasil. Sempre foi assim. Estamos fadados a ser mesmo esta miséria cultural que sempre fomos. Ao escritor e poeta competem realizar sua obra”

 (Álvaro Alves de Faria)

Álvaro Alves de Faria foi distinguido com o Prêmio Poesia e Liberdade Alceu Amoroso Lima 2018, pelo conjunto de sua obra poética. O prêmio foi entregue na noite de 5 de dezembro, no Centro Alceu Amoroso Lima – o Tristão de Athayde -, da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. O poeta é autor de mais de 50 livros no Brasil, especialmente de poesia. É também autor de peças de teatro. Álvaro Alves de Faria se considera um militante da poesia, desde os tempos de “O Sermão do Viaduto”, nos anos 60, quando realizou nove recitais no Viaduto do Chá, em São Paulo, com microfone e quatro alto-falantes. Por esse motivo foi detido cinco vezes pelo Dops. “O Sermão do Viaduto” acabou proibido.

No final dos anos 70, também foi proibido pela censura seu livro “4 cantos de pavor e alguns poemas desesperados”. Sua peça “Salve-se quem puder que o jardim está pegando fogo”, que recebeu o Prêmio Anchieta para Teatro, na época um dos mais importantes do país, também foi proibida de encenação nos anos 80 e permaneceu censurada por oito anos. Em 1969, o poeta foi preso por 11 meses, como subversivo e por desenhar os cartazes do então Partido Socialista Brasileiro. Três anos depois, levou um tiro no ouvido e tem até hoje na cabeça a bala calibre 38, como herança da ditadura militar.

Ao longo do tempo, dedicou-se por 15 anos à poesia portuguesa. Tem 19 livros de poesia publicados em Portugal e sete na Espanha, além de participar de mais de 50 antologias de contos e poesia no Brasil e no exterior. O Prêmio Poesia e Liberdade é um dos mais importantes e significativos do Brasil no reconhecimento de uma obra poética que sempre foi testemunha de seu tempo, num ato de resistência. Antes do poeta Álvaro Alves de Faria receberam esse prêmio os poetas João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Adélia Prado, Paulo Henrique Brito, Armando Freitas Filho, Marco Lucchesi, Antonio Cícero e Leonardo Fróes.

 Por motivos de saúde o notável poeta não pôde comparecer (sendo representado pela notável poeta Denise Emmer). Tivemos a grande alegria e prazerosa missão de homenageá-lo no livro “Vozes de aço volume XVII”, de 2015, da PoeArt Editora. É uma das maiores obras em números de participantes, também uma das mais procuradas até hoje.

Confira a entrevista com Álvaro Alves de Faria

Este colunista, Álvaro Alves de Faria, a poeta/também homenageada Flora Figueiredo e Vicente Melo

Diante da crescente relevância das mídias digitais, que novo cenário se desenha para a literatura brasileira?

 A chamada mídia digital é medíocre. Um escritor, um poeta de verdade, não pode se deixar impressionar com isso. Mas não há como fugir desse novo cenário, que é uma terra de ninguém. No entanto, cabe ao poeta e escritor realizar sua obra de acordo com sua consciência, sem deixar-se levar pela tecnologia que pode, sim, ser boa à vida prática. Mas nada tem a ver com a literatura. Eu, por exemplo, escrevo a mão.

 

A constante crítica de que somos um país de poucos leitores interfere de alguma forma em sua atividade?

 Pouco importa que poucos leem. Sempre foi assim no Brasil. Sempre foi assim. Estamos fadados a ser mesmo esta miséria cultural que sempre fomos. Ao escritor e poeta competem realizar sua obra. Claro que seria excelente que todos tivessem acesso ao livro. Esse dia vai ainda chegar. Está tudo em crise e a crise atingiu a literatura. Editoras acabem, livrarias fecham. Infelizmente é assim. Mas a crise não impede a obra.

 

O que a literatura de mais satisfatório lhe proporciona? 

 A leitura é um mundo mágico. No entanto, o Brasil devia se preocupar com a formação das crianças, no ensino básico, para levá-las ao hábito da leitura, equivale dizer levá-las à Beleza ainda possível de descobrir. Essa é a missão de um poeta, de um escritor. Escrever e mostrar o que ainda existe.

O livro em homenagem ao notável poeta Álvaro Alves de Faria, fotos suas e dos participantes na obra

Qual é a função da literatura na sociedade? 

 A função da literatura na sociedade já provocou muita discussão inútil, na qual todos têm razão. No meu caso, toda minha literatura e também minha atuação no jornalismo se voltou às questões sociais. Basta ver os problemas violentos que enfrentei na ditadura, incluindo prisão e até um tiro na cabeça. Minha arma é a ferramenta. Para mim, o poeta e o escritor não podem se distanciar das questões sociais de seu país.

 

Um crítico literário deve analisar apenas um poema ou a obra como um todo?

 Qualquer crítico sério não pode avaliar somente uma página de um romance ou um poema de um livro de poesia. Não. O crítico honesto tem de analisar a obra toda para conscientizar-se verdadeiramente do universo literário e humano do autor.

 

 O que acha de nossa iniciativa de entrevistar/homenagear renomes de nossa literatura? Fazendo, além de uma justa homenagem, um fomento entre o autor consagrado e o autor iniciante.

 Essa iniciativa é das mais elogiáveis neste país de tantos desencantos. Merece toda consideração e respeito de todos que lidam com a literatura. Iniciativas assim dão um alento, porque a gente sente que nem tudo está perdido. Ainda existem aqueles que lutam em favor da literatura, abrigando poetas e escritores. Ainda existem aqueles que lutam pela poesia, equivale dizer lugar pela própria identidade do país em que vivemos.

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